Você só precisa de amor

Por uma terapeuta, escritora e mulher que também já precisou se lembrar disso.

Há momentos na vida em que tudo parece ruir ao nosso redor. E não porque algo explodiu, mas porque as coisas foram se esfarelando devagar — como um bolo seco que ninguém cuidou de guardar. A louça se acumula, as mensagens ficam sem resposta, o espelho devolve um rosto que a gente não reconhece mais. O amor-próprio que prometemos cultivar vira uma frase bonita salva em algum post motivacional, mas não se sustenta nas segundas-feiras nubladas.

Se você se reconhece em alguma linha acima, este texto é para você.

E se você não se reconhece agora, guarde-o. Porque em algum momento da sua jornada como mulher, vai parecer que está tudo errado. Vai doer. E você vai se esquecer, por alguns instantes ou semanas, de que tudo o que você precisa, no fundo, é de amor.

O amor não é luxo. É necessidade básica.

Fomos ensinadas a buscar o amor como se ele fosse prêmio. Uma conquista. Um troféu reluzente que só algumas merecem — geralmente as mais magras, as mais dóceis, as mais silenciosas, as que suportam mais do que sentem. Mas isso é uma mentira das grandes. O amor, minha querida, não é um luxo. Não é acessório. Não é o que você ganha quando faz tudo certo. O amor é alimento. O amor é base.

Você não precisa se provar digna de amor — você já é.

Como terapeuta, acompanho tantas mulheres que chegam exaustas. Cansadas de carregar o mundo, de resolver tudo sozinhas, de manter a pose de força enquanto dentro estão desmoronando. E o que mais dói, não é a sobrecarga — é o abandono. A ausência de colo. A sensação de que ninguém vê. Ninguém entende. Ninguém cuida.

Mas é aí que precisamos lembrar: o amor começa em você. E não como discurso vazio de autoajuda, mas como escolha radical de acolher-se. De oferecer a si mesma aquilo que você passou a vida pedindo para os outros.

Você só precisa de amor — mas é preciso coragem para se amar.

Porque amar-se não é fazer spa todo fim de semana ou repetir mantras no espelho. Amar-se é, muitas vezes, colocar limites. Dizer “não” quando você sempre disse “sim”. Sair de relações que drenam. Reconhecer que tem dias em que você não dá conta, e tudo bem.

Amar-se é não se trair mais para caber nos moldes dos outros.

É preciso coragem para ser mulher num mundo que se beneficia do seu esgotamento. Que romantiza a sua entrega incondicional. Que chama de “forte” quando você, na verdade, está apenas sobrevivendo. E é preciso ainda mais coragem para parar. Respirar. E decidir que não vai mais viver no automático.

O amor que você precisa não vem só de fora — mas não se constrói sozinha.

Tem uma coisa que precisamos falar com honestidade: você não precisa dar conta sozinha.

Vivemos numa cultura de individualismo, onde vulnerabilidade é vista como fraqueza e onde dizer “eu preciso de ajuda” soa quase como falência pessoal. Mas, minha querida, a verdade é que ninguém se cura sozinha. Ninguém se refaz sem mãos que acolhem, ouvidos que escutam, olhares que não julgam.

Você precisa de amor — e esse amor também vem de relações nutritivas, de amizades sinceras, de terapias, de trocas reais. De gente que não exige que você esteja sempre bem para ser amada.

Permita-se receber. Abrir espaço. Não só para dar — mas para ser cuidada.

Quando você ama, algo se reorganiza no mundo.

Sim, tudo o que você precisa é amor. Mas o amor real. O que não aprisiona. O que não cobra perfeição. O que aceita seus dias ruins. O que permite silêncios. O que te convida a existir por inteiro — com sua história, suas marcas, suas fases, seus altos e baixos.

Quando uma mulher começa a se amar, ela muda o mundo ao seu redor.

Porque ela passa a escolher diferente. Ela não aceita mais migalhas. Ela exige respeito. Ela inspira outras mulheres. Ela educa filhos com mais empatia. Ela ensina que é possível ser forte sem deixar de ser sensível. E ela começa a construir espaços onde outras também podem se amar sem medo.

Amor é prática diária. E começa no agora.

Você pode começar hoje. Agora. Feche os olhos por um instante e pergunte-se com sinceridade: do que eu estou precisando hoje? Talvez seja descanso. Talvez seja chorar. Talvez seja uma conversa leve. Ou um silêncio reparador. O amor começa aí — na escuta de si.

Faça disso uma prática. Um ritual. Uma política pessoal de autocuidado. De autoacolhimento. Escreva cartas para si mesma. Dance sozinha. Peça colo quando precisar. Diga o que sente. Desfaça as armaduras. A vida não exige que você seja de ferro — ela só espera que você esteja viva. Presente. Inteira.

Mulher: você só precisa de amor. De verdade.

E quando digo isso, não falo de um amor romântico idealizado. Falo de amor como estado de presença. Como decisão de se tratar com gentileza. Como ação política. Como revolução silenciosa no meio do caos.

Você nasceu merecedora de amor. E merece vivê-lo em todas as suas formas: o amor que você dá, o que você recebe e, sobretudo, o que você cultiva por si.

Então, da próxima vez que o mundo parecer demais, respire fundo e repita com fé:
Eu só preciso de amor. E eu me permito vivê-lo.

Com carinho,
Alguém que também está cultivando o amor todos os dias.

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