
Ninguém ensina uma mulher a dançar no meio da floresta.
Ela já nasceu sabendo.
O corpo guarda o mapa.
Os ossos lembram.
É a alma que escuta o chamado — e um dia, sem aviso, ela responde.
Ela tira os sapatos.
Solta os cabelos.
E sem que ninguém precise ver,
ela vai.
Vai para onde a terra ainda respira por si.
Onde as pedras têm nomes.
Onde o vento fala em vozes antigas.
Ali, no silêncio que antecede o som,
ela começa a dançar.
Mas não é uma dança que se aprende.
É uma dança que emerge.
Do útero.
Da terra.
Do invisível.
Porque quando uma mulher dança na natureza,
não é apenas ela quem dança.
É a avó dela.
E a avó da avó.
E todas as mulheres que queimaram, calaram, esconderam.
Todas dançam com ela.
Através dela.
Os galhos se curvam.
A lua vigia.
O chão vibra.
Ela gira com as marés.
Ela pulsa com as raízes.
Ela sangra em flor.
Ela invoca —
e é invocada.
Essa dança é um rito.
Um portal.
Um idioma esquecido do feminino sagrado.
Ali, o corpo é altar.
O suor é oferenda.
E o movimento, prece.
Ninguém precisa ver.
Ninguém precisa entender.
Porque essa dança não é para os olhos.
É para os véus que se rompem.
É para as feridas que se fecham.
É para os ciclos que se completam.
A mulher que dança ao ar livre está fazendo magia.
Está chamando de volta pedaços perdidos de si mesma.
Está lembrando ao mundo que a vida é feita de espirais,
não de linhas retas.
E quando ela termina,
não há aplausos.
Há silêncio.
Há presença.
Há o sagrado, ali, respirando com ela.
Ela volta diferente.
Mais inteira.
Mais selvagem.
Mais ela.
E o mundo…
o mundo inteiro respira um pouco mais fundo,
sem saber por quê.