Os Pés e Seus Dilemas

Há quem diga que sente aflição nos pés.


Talvez por não saber que, o prazer mora nos detalhes mais despretensiosos, nas fronteiras menos óbvias do corpo.
Há uma ternura crua, um mistério quente que começa ali — onde o chão e a carne se encontram, onde caminhamos o mundo sem que o mundo nos perceba.

Mas você já experimentou alguém que começasse a te devorar pelos pés?

Não com pressa.
Não com voracidade apressada.
Mas como quem descobre um jardim secreto, como quem toca pétalas raras, temendo ferir o sagrado que repousa ali.
Toques suaves como sopros, mãos deslizando como brisas quentes, dedos desenhando mapas invisíveis em cada curva, em cada espaço esquecido.

O primeiro arrepio nasce no tornozelo — discreto, quase tímido.
E de lá, como uma chama acesa em pele de seda, vai subindo, subindo, rasgando resistências, desarmando as armaduras invisíveis que carregamos sem perceber.
É nesse instante que você se sente deusa.

Quando os olhos dele se elevam até os seus, enquanto ainda beija seus pés como se bebesse do próprio néctar da terra.
Quando suas mãos firmes seguram seus calcanhares, como quem segura um oráculo, e seus lábios quentes desenham preces sobre sua pele.

Você morde os lábios, tentando conter a torrente que cresce no ventre.
Mas é impossível.
Porque ser tocada assim — com reverência, com desejo que não exige, mas suplica — é como ser coroada sem precisar pedir.

Seus pés, antes tão esquecidos, agora são o portal.
O caminho.
A senha secreta para acessar todo o território sagrado do seu corpo.

E cada pequeno gesto — um dedo que pressiona de leve, um beijo demorado na sola, uma mordida sutil no arco — é uma explosão de sensações que reverbera em lugares onde nenhuma língua poderia descrever.

É assim que o dilema se desfaz.

Não há mais espaço para aflição.
Só para a entrega.
Só para o espanto delicioso de ser descoberta onde você jamais imaginou ser tão viva.

E quando finalmente ele sobe, deixando um rastro de fogo na sua pele, seus pés já não são apenas pés.
São testemunhas.
São rainhas.
São centelhas de uma dança que é só sua, que é só de vocês — uma dança que começa pelo chão, mas termina no infinito.

Porque, minha querida, o prazer verdadeiro nasce onde a alma é tocada primeiro.

E às vezes, a alma começa nos pés.

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