No meu mundo, só existe quem EU quiser

A noite descia sobre a cidade como um véu espesso de mistério.
Lá dentro, no salão de luzes baixas e perfumes proibidos, mulheres se moviam como visões saídas de um sonho antigo.
Vestidos esvoaçantes, peles douradas sob a luz tênue, olhos que não pediam — ordenavam.

Elas não esperavam por ninguém.
O mundo girava para elas.
O tempo se curvava em sua direção.

Cada passo era um feitiço.
Cada gesto, uma sentença.

Entre elas, havia uma — a que parecia governar o próprio desejo.
Ela atravessava o salão, seus quadris desenhando promessas no ar.
Não sorria para todos.
Não olhava para todos.
Escolhia.

E o escolhido sabia: ser olhado por ela era ser desnudado até a alma.

Quando ela parou diante dele, o mundo perdeu o som.
Havia apenas aquela mulher, sua boca entreaberta como quem saboreia um prazer secreto, seus dedos brincando com a taça de vinho como se tocassem uma pele invisível.

Sem dizer palavra, ela se aproximou.
Seu corpo roçava o dele num convite lento e quente, o hálito de vinho e desejo escapando por entre sorrisos indecentes.

Guiou-o sem tocar.
Conduziu-o para além das cortinas, onde a penumbra protegia segredos que só ela era capaz de criar.

Ali, despidos de nomes, títulos e máscaras, restaram apenas pele, fome e reverência.

Ela ergueu a perna, apoiando o pé descalço no peito dele.
Seu olhar dizia tudo: "Você vai começar daqui.
Dos meus pés."

E ele obedeceu.
Tomou seus dedos delicados na boca como se provasse o fruto mais proibido, como se cada parte dela fosse feita de mel e feitiço.
A língua traçou caminhos lentos, subindo pelos tornozelos, saboreando a maciez dos joelhos, se demorando nas coxas abertas em generosa entrega.

Ela fechou os olhos e respirou fundo, sentindo cada centímetro de si ser adorado.

Não havia pressa.

O prazer, para ela, era uma construção de catedrais — altares erguidos com beijos, gemidos e promessas.

Ele a deitava sobre almofadas macias como nuvens, abrindo-lhe os segredos com uma devoção quase religiosa.
Cada toque era um cântico, cada lamber era uma oferenda, cada mordida uma oração silenciosa pedindo permissão para se perder em seu templo.

E ela permitia.

Porque ela escolheu.

Ela era a sacerdotisa do próprio corpo, a rainha dos próprios desejos, a senhora absoluta daquele momento.
Seus seios ofereciam-se como cálices sagrados; seu ventre ondulava sob as mãos ávidas, famintas, desesperadas por mais dela.

Quando finalmente suas bocas se encontraram, não era apenas beijo — era comunhão.
Era confissão.
Era pacto.

Línguas dançavam numa luta sem vencedor, dentes arranhavam a pele salgada de suor e paixão.
Ela o guiava — ora exigente, ora indulgente — como quem conhece todos os segredos da criação e os revela apenas a quem merece.

Em um momento, estava sobre ele, seus quadris traçando círculos lentos, hipnóticos, comandando cada investida com maestria ancestral.
Seu prazer era soberano — e ele sabia disso.

No sussurrar rouco de seus gemidos, ela contava histórias que os homens jamais esqueceriam: contos de mulheres que não pedem, tomam; que não esperam ser escolhidas, mas escolhem.

O corpo dela era um banquete, uma provação, uma bênção.

Quando o orgasmo veio, foi como um trovão dentro da carne — um rompimento do mundo físico.
Ela arqueou as costas, os cabelos se espalhando como uma coroa selvagem, o grito rasgando o ar e selando a verdade inquestionável: naquela noite, naquele altar profano, ela era deusa.
E ele era apenas o súdito abençoado pela sua escolha.

Quando tudo se aquietou, ela sorriu.

Um sorriso doce, um sorriso de vitória, de certeza, de glória.

Sabia que poderia, se quisesse,  vê-lo novamente.
Porque, no seu mundo, só existirá quem ela quiser.
E esse desejo será livre.
Será feroz.
Será invencível.

No templo sagrado de seu corpo, ela é a sacerdotisa, a oferenda, e a própria Deusa.
E nada menos do que isso seria aceito.

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