Escolha

Em tempos antigos, as mulheres eram escolhidas.
Oferecidas.
Tomadas.
Arrancadas de si mesmas.

Hoje, em um novo tempo que renasce silenciosamente sob a pele do mundo, algo sagrado desperta:
A mulher volta a ser soberana do seu próprio templo.
E com essa soberania, ela escolhe.

Ela escolhe quem se ajoelhará diante de seu altar.
Ela escolhe quem merecerá tocar a sua pele.
Ela escolhe quem poderá ouvi-la gemer não de dor, não de obrigação, mas de prazer.
Prazer nascido da liberdade. Prazer escolhido com consciência. Com alma.

Ela caminha pela vida como quem dança sobre as águas, e cada passo é uma afirmação silenciosa: "eu me pertenço".

Naquela noite, ela escolheu.
Escolheu sem pressa, sem medo, sem máscaras.
Um homem que a via não como corpo disponível, mas como um templo vivo.
Um homem que entendia que seu corpo era feito de mapas secretos, rios de lava e jardins indomáveis — e que cada toque era uma oferenda.

O ritual começou antes de qualquer toque.
Começou no olhar.

Ele a olhou como quem contempla uma deusa que só poderia ser alcançada se a alma estivesse limpa.
Seu olhar dizia: “Eu vejo você”.
Não a imagem.
Não o que poderia ter.
Mas o que ela era — inteira, vasta, infinita.

Ela sentiu o corpo pulsar.
Não pelo que viria — mas pelo que já era.

Quando ele a tocou, não havia fome desesperada.
Havia reverência.
Suas mãos percorriam a pele dela como quem lê escrituras antigas.
Sem invadir.
Sem exigir.
Só descobrindo.

Os dedos passeavam lentamente pelas clavículas, pelo pescoço, pela curva dos ombros, pelo dorso das mãos.
E ela, de olhos fechados, respirava em ondas lentas, como se cada carícia fosse uma prece.

Ele não a despiu de uma vez.
Não era uma batalha a ser vencida.
Era uma oferenda a ser aceita.

Cada peça de roupa retirada era celebrada em silêncio, como uma camada de mundo que se desprendia para revelar o céu.
Quando seu corpo enfim se mostrou nu diante dele, ela não se encolheu.
Ela se abriu como uma flor que conhece a força da sua beleza.

Ele se ajoelhou.

Não por submissão.
Mas por honra.
Aproximou o rosto de suas coxas e ali ficou, apenas respirando, apenas sentindo.
O calor.
O perfume.
A vida que escorria dela como um vinho proibido.

Ela sentiu seu ventre tremer.
Sentiu seus seios enrijecerem sob o ar carregado de desejo.
Sentiu que, finalmente, era tocada como merecia.

Quando a língua dele encontrou sua pele, não era apenas prazer físico.
Era transcendência.
Era a sensação de ser atravessada por um raio de vida, de ser celebrada como a própria Terra é celebrada na alvorada.
Cada lamber, cada beijo, cada mordida leve era uma promessa: “eu te reconheço”.
Promessa que ela sentia nas entranhas, como um eco primitivo chamando do fundo dos ossos.

Ela gemeu — mas não era um som forçado.
Era o som da vida jorrando de dentro dela.
Som de libertação.

Ele a adorava sem mapa, guiado apenas pelo instinto puro da veneração.
Suas mãos firmes, sua boca úmida, sua respiração descompassada junto da dela — tudo conspirava para levá-la à beira de si mesma.

E então ela explodiu.

Mas não em um orgasmo qualquer.
Explodiu em luz.
Explodiu em gritos que eram cânticos.
Explodiu em lágrimas que eram bênçãos.

Seu corpo inteiro vibrava em espasmos sagrados.
Como se cada célula fosse uma estrela se partindo e renascendo.
Como se cada gemido fosse um mantra.

Naquele instante, ela sabia:
Não era apenas sexo.
Era reconexão.
Era ancorar o feminino em sua forma mais crua e esplendorosa.

Quando enfim repousou nos braços dele, seus corpos ainda entrelaçados em calor e rendição, não havia culpa.
Não havia medo.
Não havia vergonha.

Havia apenas gratidão.

Gratidão por ser mulher.
Gratidão por escolher.
Gratidão por existir em sua forma plena, ardente e livre.

O ritual não terminou ali.
Porque cada vez que ela escolhesse seu prazer, cada vez que ela erguesse seu corpo como bandeira de sua liberdade, o ritual renasceria.
Em cada toque.
Em cada respiração.
Em cada orgasmo que fosse oração.

A verdadeira liberdade é feita de escolhas conscientes.
E o prazer, quando é escolha, é a mais pura manifestação de amor a si mesma.

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