
Há um silêncio pesado pairando sobre a história das mulheres.
Um silêncio imposto, moldado por séculos de repressão, apagamento e distorção do sagrado feminino.
Mas dentro de cada mulher, há uma centelha ancestral que nunca se apagou — mesmo nos tempos mais sombrios, ela pulsa. Discreta, mas viva.
Uma brasa escondida sob as cinzas do medo, da culpa, do autoabandono.
E quando uma mulher escolhe brilhar... ah, minha irmã, quando ela decide deixar essa centelha incendiar sua vida, o mundo ao redor não é mais o mesmo.
Ser luz na escuridão não é sobre perfeição, sobre ter todas as respostas, ou sobre estar constantemente iluminada.
Ser luz é ter a coragem de acender sua verdade mesmo quando tudo ao redor está escuro.
É dizer sim à sua essência, mesmo quando isso incomoda, desinstala, desafia.
É permitir que sua presença revele tudo o que esteve oculto — inclusive em você mesma.
Ser luz é revolucionário.
Porque neste mundo que hipersexualiza os corpos femininos mas condena o prazer, que aplaude a beleza mas silencia a alma, que vende liberdade mas escraviza o desejo — ser mulher e ser livre é um ato de resistência.
Ser mulher e ser inteira é quase heresia. Mas ainda assim, algumas ousam. E ao ousarem, abrem trilhas.
🔻 Quando uma mulher se despede da culpa e abraça seu prazer como altar sagrado, ela realinha o destino de gerações.
🔻 Quando uma mulher escolhe se amar de dentro pra fora, ela quebra o feitiço da comparação e da competição.
🔻 Quando ela dança com sua sombra, sem medo do que vai encontrar, ela se torna medicina viva — para si e para outras.
Quando uma mulher se torna luz, ela não apaga as outras.
Ela acende.
Na escuridão densa que cobre o útero da Terra, onde o feminino ainda é domado, moldado, regulado — nasce uma nova linhagem de mulheres que não pedem mais permissão para sentir, criar e gozar.
Mulheres que se lembram que seu corpo é um templo e sua alma é um oráculo.
Mulheres que já morreram muitas vezes e agora renascem com os olhos de fogo e o coração aberto.
Essas mulheres não seguem manuais.
Elas escutam a sabedoria do ventre.
Elas não precisam provar que são suficientes — elas habitam sua inteireza com confiança. Elas sangram, gemem, curam, nutrem, dançam... e nisso tudo, elas iluminam.
Elas são faróis.
Elas são tochas vivas.
São elas que caminham à frente em rituais de renascimento, abrindo caminhos para outras.
São elas que acolhem com o útero, que dizem "vem" com o olhar, que sustentam com o corpo a lembrança de que é possível.
Ser luz na escuridão é ser ponte entre mundos. É não negar a dor, mas transmutá-la em poesia, em rezo, em sabedoria. É não se esconder na conveniência da normalidade, mas viver em plenitude — mesmo que isso signifique caminhar contra a maré.
Porque quando uma desperta, outras sentem o chamado.
Quando uma se permite brilhar, outras lembram do brilho que um dia enterraram.
Quando uma se reconecta com seu prazer, outras descobrem que o prazer também pode ser casa, também pode ser rezo, também pode ser caminho para Deus.
Sim, mulher. Ser luz é também provocar. É também desacomodar. É iluminar as sombras que muitos preferem manter escondidas. Mas que seja. Que sejamos mesmo as que incomodam — porque estamos acordadas. Porque nos lembramos.
Nos lembramos do tempo em que as mulheres eram oráculos e não objetos.
Nos lembramos do tempo em que dançar era linguagem sagrada.
Nos lembramos do tempo em que o sangue era oferenda e o prazer, portão de entrada para o divino.
Hoje, ser luz é lembrar e fazer lembrar. É encarnar essa sabedoria e viver como um templo. É transformar sua existência em oração encarnada.
E se por acaso você ainda estiver no escuro, se ainda se sentir perdida entre as ruínas de tantas versões suas — saiba: a luz já está em você.
Você não precisa ser outra. Você só precisa se lembrar. E permitir que essa lembrança acenda tudo.
Seja luz.
Seja a primeira de muitas.
Seja o início de um novo ciclo.
E quando sentir que está brilhando sozinha, lembre-se: há outras, em outros cantos, em silêncio ou em rezo, que estão fazendo o mesmo.
Cada uma com sua vela, cada uma com seu altar.
Juntas, estamos acendendo o mundo.